quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Teatro de Almeida Garrett

1. Reforma do teatro nacional

A revolução de Setembro de 1836 colocou no poder Sá da Bandeira e Passos Manuel, ambos admiradores e amigos pessoais de Garrett. Pensaram os hábeis políticos em reorganizar o teatro nacional, quase sem vida desde o tempo de Gil Vicente. Criaram a Inspecção Geral dos Teatros, nomeando primeiro inspector Almeida Garrett.

Investido no cargo, tratou logo o eminente escritor de estudar as causas da decadência do teatro em Portugal e de o ressuscitar em seguida.

2. Decadência e reorganização do teatro nacional, segundo o prefácio de «Um Auto de Gil Vicente»

a) Causas da decadência.

No prefácio do drama Um Auto de Gil Vicente, indica Garrett as causas que contribuíram para a decadência do teatro nacional. A primeira e mais importante foi a falta de gosto no público. Não havendo poder de compra, ninguém se arrisca a fabricar artigos. A acção dos governantes é que criou este estado de coisas, o que prova com meia dúzia de factos:

1. D. Sebastião, que só sabia «brigar e rezar», cortou a planta logo à nascença, desprezando as representações teatrais;

2. D. João IV tinha certa inclinação para a arte, mas não passou de músico de igreja;

3. os filhos desse monarca não tinham gosto por coisa nenhuma; D. João V, mecenas das Letras e Artes, só apreciava os grandes livros in folio das Academias;

4. no tempo de D. José, acabaram de estragar o gosto do público com a ópera e, além disso, mataram o Judeu;

5. no reinado de D. Maria I, as mulheres estavam proibidas de pisar o palco;

6. embora depois as Academias tenham estabelecido prémios para os bons autores dramáticos, só se traduziram peças de Racine, Voltaire, Crebillon e Arnaud.

b) O trabalho que se impôs Garrett.

Depois de ter analisado bem estas causas da decadência do teatro, expõe Almeida Garrett o que pretende fazer para melhorar o gosto do público e reorganizar a arte dramática. O seu programa está patente numa carta que escreveu a D. Maria II. Como não vê casas de espectáculos decentes (o teatro do Salitre e o da rua dos Condes são impróprios), nem actores, nem dramas (as obras de Gil Vicente e as óperas do Judeu são obsoletas), propõe à Soberana que se crie um edifício condigno para as representações; que se funde uma escola dramática; que se escrevam dramas românticos, as únicas peças capazes de interessar o público do século XIX.

Fez-se o drama, criou-se o Conservatório e levantou-se o Teatro de D. Maria II. Não se pode dizer que fosse improfícuo o trabalho de Garrett.

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