quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Teatro de Almeida Garrett

«Um Auto de Gil Vicente»

Foi esta obra escrita com o firo de arranjar algum repertório para a organização do teatro nacional.

A intriga anda à roda de um ensaio e representação das Cortes de Júpiter de Gil Vicente, por ocasião das bodas de D. Beatriz, filha de D. Manuel, com o Duque de Sabóia. Explora-se uma lenda não provada de supostos amores da Princesa com Bernardim Ribeiro. As personagens principais, além dos citados Bernardim Ribeiro e D. Beatriz, são Garcia de Resende, D. Manuel, Gil Vicente, Paula Vicente e Pêro Safio.

Garrett pretendeu pôr em contraste o carácter de Gil Vicente, homem do povo, cobiçoso de fama e de glória, através da arte, e o carácter de Bernardim Ribeiro, nobre cavaleiro que cultivava as letras por diletantismo.

O significado estético desta obra havemos de o ver corporizado na quebra das leis que presidiam à elaboração do teatro clássico e na correlativa intromissão de elementos românticos: amores impossíveis, a saudade, as aventuras galantes, a linguagem vulgar próxima da fala, a coexistência do sublime (D. Beatriz e Bernardim) e do grotesco (Pêro Safio, um tipo meio bobo), a falta das três unidades, etc.

Não é pequeno também o significado histórico-cultural do drama: o primeiro esforço sério da restauração do teatro nacional, reatando uma tradição vicentina.

Foi escrito em 1838.


«O Alfageme De Santarém»

A acção d' O Alfageme de Santarém passa-se durante o interregno que se seguiu à morte de D. Fernando. É constituída fundamentalmente por uma intriga política a envolver os partidários dos possíveis pretendentes ao trono de Portugal: o Alfageme, que apoia o Infante D. João (filho de Inês de Castro), D. Nuno, que apoia o Mestre de Avis, e Mendo Pais, que, debaixo de atitudes nebulosas e hipócritas, apoia D. João de Castela. O Alfageme, reconsiderando, junta-se em Aljubarrota à gente do Mestre de Avis.

De mistura com esta intriga política, há um enredo amoroso. Alda, sobrinha do bondoso e alegre P.e Froilão, está apaixonada por D. Nuno, mas esmaga este amor que as diferenças de condição social não permitiriam santificar pelo matrimónio e casa com o Alfageme, fazendo assim a vontade ao tio. Há no drama uma condenação explícita das lutas civis (ataque a Setembristas e Cartistas). A acção é retardada num ponto ou noutro por excesso de trovas populares que a gente do Alfageme entoa. Foi escrito em 1842.

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