quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Adolfo Casais Monteiro - perfil literário

Adolfo Casais Monteiro nasceu no Porto, em 1908, onde se licenciou em Ciências Históricas e Filosóficas na extinta Faculdades de Letras. Em 1931, está em Coimbra como co-director da Presença. Inicia então a sua carreira poética com o volume Confusão. Em 1933, volta ao Porto para leccionar no Liceu Rodrigues de Freitas, ao mesmo tempo que publica um livro de ensaios, Considerações Pessoais, revelador duma segunda faceta de seu temperamento e do caminho que segue daí por diante.
Transferiu-se para o Brasil em 1954, onde continuou sua obra de poeta e crítico, a par da actividade como professor universitário, e onde faleceu a 24 de Julho de 1972. Ainda escreveu os seguintes livros de versos: Poemas do Tempo Incerto (1932), Sempre e sem Fim (1937), Versos (reunião dos três livros anteriores, 1944), Canto da Nossa Agonia (1943), Noite Aberta aos Quatro Ventos (1943), Europa (1945), Simples Canções da Terra (1949), Voo sem Pássaro Dentro (1954). Em crítica: De Pés Fincados na Terra (1941), O Romance e os seus problemas (1950), Estudos sobre a Poesia de Fernando Pessoa (1958), Clareza e Mistério da Crítica (1961), A Palavra Essencial (1965), etc. A ficção atraiu-o fortuitamente, com o romance Adolescente (1946).
Enquanto poeta, Casais Monteiro tem andado injustamente esquecido em favor do ensaísta. Sua poesia, desabrochada e desenvolvida no ambiente da Presença, oscila entre a tradição de ritmos límpidos e vincados, armados segundo repetidas escalas de valor, e a lírica moderna, enquanto realização dum canto libertário e anárquico.
Penetrando a camada significante de sua poesia, teríamos, de um lado, um sentimento existencial desalentado e melancólico, embricado na linha tradicional do lirismo português, mormente em sua conformação romântica; e de outro, um racionalismo consciente, intelectualista, que não passa dum disfarce para esconder o tumulto que lhe vai na sensibilidade. Essa ambivalência torna sua poesia muito moderna, ao mesmo tempo que revela um esforço de adaptação afinal impossível, precisamente por causa do sentimento que habita as camadas íntimas do poeta. Por isso, no choque pessoano entre o poeta-que-pensa e o poeta-que-sente, este leva a melhor, não raro graças a uma transparência lírica que o próprio impulso racional pretende, inutilmente, apreender e fixar. E é em consequência desse resultado favorável ao sentimento que o poeta atinge uma espécie de "canto puro": sendo aquele em que a palavra se volatiliza, um universo sonoro em permanente ebulição, alcança-o quando se entrega ao sentimento que o liga indissoluvelmente ao passado e dá foros de permanência à sua poesia: "Pelos caminhos incertos /dum" país de sonho e bruma / vou desvairado à procura / de qualquer coisa que sinto / fugir-me por entre os dedos."
Enquanto ensaísta, Casais Monteiro caracteriza-se por não adoptar métodos ou esquemas prévios ou "científicos" de julgamento. Ao contrário, pratica uma crítica estética, ou crítica como criação, ou recriação, à procura sempre dum comportamento isento, desprevenido e espontâneo diante do texto, que não significa desprezo algum pelo apoio da inteligência na investigação textual. Falsamente rotulada de "impressionista", sua crítica por vezes desequilibra-se, assumindo tons polémicos, explicáveis pela "paixão" literária que a enforma e a orienta.


Massaud Moisés, A Literatura Portuguesa
Editora Cultrix, São Paulo

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